terça-feira, 9 de outubro de 2012

Cinismo abismal



Balança a ponte ao sabor do vento
Finco-lhe os pés, geme a madeira
Grita por mim o abismo sedento,
Me desejando de qualquer maneira

A morte assovia fácil melodia
Uma cantiga qualquer de ninar
Que sono me dá nessa travessia

Me encanta o abismo, tão misterioso
Debruço-me na ponte - que dança
Não sigo sozinho só por ser teimoso
É que aonde estou ninguém me alcança

Desse caminho conheço os perigos
Já o percorri de olhos vendados,
De costas com os pés feridos

Sei que a velha ponte há de ceder
Tombando para dentro do abismo
Onde houver morte há de haver
Um negro abutre de largo sorriso

Faço das sua asas meu transporte
Com o necessário cinismo
Venço o abismo, engano a morte

Mateus Medina
08/10/2012

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