Não é novidade que o Cinema estraga livros desde sempre. O penúltimo "estrago" que vi foi
"Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 2".
Até certo ponto, o filme parecia manter a fidelidade ao livro, e de repente descambou, ficou "morno" e chato.
Como eu sou fã de carteirinha, me custou a admitir, mas, admito aqui. Pronto.
No entanto, não é disso que quero falar agora, é de
"A Solidão dos Números Primos", o primeiro e
F-A-N-T-Á-S-T-I-C-O livro do escritor Italiano,
Paolo Giordano.
Esse livro foi um dos que "escolhi pela capa". Como já disse, não julgo um livro pela capa, mas uma boa capa consegue me chamar atenção o suficiente para comprar um livro. Foi esse o caso.
(A capa de edição que li)
Eu e a preta somos sócios do "Círculo de Leitores", e todos os meses escolhemos pelo menos um livro da revista que recebemos. Deve ter pouco mais de um ano que escolhi esse pela capa, e não me arrependi. Pelo contrário.
O livro conta a história de Mattia e Alice, começando pela infância e os acompanha até a idade adulta.
Justamente na infância, eles passam por traumas que vão marcar as suas vidas para sempre.
Individualmente, Mattia e Alice são seres humanos com traumas enormes, que vivem limitações terríveis em suas vidas por conta desses traumas. Alice torna-se anoréxica e Mattia, um verdadeiro gênio, esconde-se nos estudos e dentro da sua doentia cabeça, enquanto mutila-se fisicamente e psicologicamente.
O livro é bárbaro, e não tenho qualquer adjetivo que não seja exagerado para lhe dar. É um livro que trata de emoções humanas, que são reais e sofríveis, e que muitas vezes existem bem ao nosso lado, mas que são difíceis de compreender e até identificar. É mais fácil "rotular" de "freak". Trata de desencontros e silêncios. Trata de amor, mas de uma maneira bem diferente da habitual.
Cada página é de uma sensibilidade ímpar, e você não consegue parar enquanto não devora o livro todo, se emocionando junto com aquelas criaturas que são "números primos", que passam a vida juntos sem poderem se tocar...
A maneira como o autor nos transporta para a mente das personagens é tão simples e natural, que a história parece realmente se desenrolar ali à nossa frente. A estranha relação de Mattia e Alice é dissecada com uma carga de realidade poucas vezes vista... Mattia principalmente, é uma personagem de carga emocional e dramática fortíssima (não que Alice não seja, mas eu a sinto "superar" as coisas melhor que ele)... é impossível ficar indiferente ao sofrimento que ele se impõe ao longo do livro.
Com certeza uma das 10 melhores obras dos anos 00's. Imperdível.
Não vou "spolear" muito, porque se alguém se interessar em ler, eu garanto que não vai se arrepender.
A questão é:
NÃO VEJAM O FILME antes de ler o livro - e se não quiserem ver depois, não faz falta...
Os atores estão ótimos, principalmente o que faz o Mattia na fase intermédia (são três fases passadas no filme, a infância, a adolescência e a fase adulta). No entanto, nem só de atuações vive um filme.
A fotografia do filme chega a ser ótima em algumas passagens, e exagerada em outras.
A música do filme começa bem, e de repente, sai do contexto e depois se repete, e repete... Mas, é a edição que consegue estragar verdadeiramente o filme.
"Picando" as ações do livro, eles conseguiram estragar a obra, que é contada de forma linear, embora "volte" algumas vezes em lembranças das personagens, mas de maneira a nunca perdermos o fio da meada, o que não acontece no filme, infelizmente... Se alguém não leu o livro e vê o filme, provavelmente não sentirá vontade de ler - isso se terminar de ver o filme...
Além disso - o que para mim é mais grave -, deixaram de fora alguns momentos extremamente marcantes do livro, e fizeram um final... ridículo. O final do filme insinua
justamente o oposto do livro. Ou assim pareceu a mim e a todos que viram o filme comigo...
Quando fiquei sabendo do filme, imaginei que pudesse ser assim. Eu sabia que seria um grande desafio para o cinema, traduzir tanta sensibilidade e confusão... mas poderia ter sido muito melhor.
"A Solidão dos Números Primos" não é uma obra que "peça" uma adaptação cinematográfica, pelo contrário, estaria melhor sem ela.