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sexta-feira, 28 de março de 2014

Olhos negros



Matar nunca foi um desejo,
Uma vontade nascida da neblina
Ou mesmo escolha, fruto do ensejo
Fui impelido pelos olhos da menina

Disse-me ela, num primeiro olhar:
"Alimenta-me do pesar alheio"
Desde então, tenho vindo a sangrar
Um qualquer que não veja ao espelho

À noite ela sussurra baixinho
Em tons de loucura contida
"Dá-me mais, mais um pouquinho!"
Então saio, e ceifo outra vida

Sua voz não me causa tormento,
Não me amedronta, nem me incomoda
Em verdade, se ausente um tempo
É a saudade quem invade a porta

Fala-me, menina de olhos negros
Diz-me um nome, e dar-te-ei essa alma
Conta-me o teu mais triste segredo
Só o som da tua voz me acalma

Mateus Medina
28/03/2014





quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Ao som daquela valsa


Desconheço por completo o amor
Não vi qualquer das suas faces
Fossem pueris ou nobres,
Jamais amei de verdade

Foi o desejo o meu único guia
Jamais me sufocou a fantasia
Em mim, a paixão nasceu morta

A esperança não teve morada
Fui desejo, puro, mais nada
Peço então que nada me peças
Não me venha, agora, ora essa,
Esperar qu'eu entenda o teu pranto
Como um fraco e imbecil santo
Que no fim ajoelha e reza
Em buscar do ridículo perdão

Não faço qualquer gentileza
Sou desejo, vício e luxúria
Que o último orgasmo me leve
Seja intenso, mas seja breve
Pois, de partir tenho pressa

Que venha o abismo final,
O caos, que da morte se herda
Ao som de uma valsa de Strauss
Deixo este mundo de merda

Mateus Medina
21/08/2013

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

À puta que pariu

Num macabro acaso da vida
Cruzaram meus olhos com os teus
Os meus opacos - pura neblina
Os teus cansados - gritos de adeus

Jamais te poderia ajudar
Ainda e mesmo que quisesse
Nunca aprendi o que é amar
E tu, o amor não mereces

Fomos um do outro a ruína
Doente obsessão nos consumiu
Mergulhaste na minha neblina
Mandei-te à puta que pariu

Mateus Medina
18/01/2013


terça-feira, 21 de maio de 2013

Implacável



Não tenho lar, nem para onde ir
Minha fuga é sempre circular
Sobe a poeira, cega o porvir
Me convenço que tudo passará

Sob a cínica e luminosa lua
Me visto de herói, invento elos
Laços que sustenham sanidade
Amontoo pedras, finjo castelos 

Se tem a vida uma qualquer razão
Perdão, com certeza, não será
Implacável, nunca irá me absolver

Dela o que me cabe é a solidão
Já não pode a morte me assustar
O que me mata, de fato, é viver 

Mateus Medina
08/04/2013



quinta-feira, 7 de março de 2013

Essa coisa



Afaste-se um pouco, é mais seguro
Minhas correntezas partem remos
São caudalosas as correntes
Que espancam minha alma
Nada cessa, nada acalma
Afasta-te, pelo bem do teu futuro

Perscrutar meu lar é um perigo
Há caminhos sem volta, vícios fétidos
As portas fecham-se, tu sufocas
Fica tudo espalhado no sofá
O rastro da alegria que não há
É em si próprio a ilusão de abrigo

Pode vir, mas vá antes que amanheça
É que tenho a alma encharcada
De sombras, veneno e mais nada
Os armários abarrotam de dor
E é impossível arranjar espaço
Para essa coisa que tu chamas amor

Mateus Medina
04/03/2013

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Entre a sopa e a morte

"Dos viejos comiendo sopa" (Francisco Goya)
Uma das 14 obras que compõem as "Pinturas Negras", de Goya

Bebe a sopa e cala-te, ó velho!
Tua hora se aproxima a calvalgar
Não serás levado com esmero
Quando a luz dos teus olhos borrar

Tens na pele a culpa entranhada
De maneira que já não se solta
Bebe a sopa, cala-te e mais nada!
Não voltas a passar daquela porta

Será o último, este cínico sorriso
Que inocentes almas molestou
Bebe a sopa, ó estrume enfermiço!
Que a morte vem aí; já apeou

 Mateus Medina
18/02/2012

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Pelo fogo



Quando chamaram-me covarde
Não tinham pequena ideia
De como dói - quando arde
O fogo invade, desnorteia

Julgado e condenado: um borra-botas
Esquecidas as vitórias do passado
Nem a morte concederam-me; idiotas
Tolo erro que não fora perdoado

Prometi que voltaria, todos riram
A humilhação é o bastante - disseram
Arrastado em estrume, me baniram
Gargalhadas ainda hoje reverberam

Fartaram-se com vinhos e canções
Deixei-os esquecer que existi
Segui o meu caminho de orações
Recordando do dia em que parti

Ouviram-me os deuses do inferno!
Dentro do fogo que outrora temi,
Danço agora a caminho do eterno
Destino que um dia escolhi

Esgueirei-me pela noite num rasgo,
Pelas sombras do dia naveguei
Vejo agora a turba dos carrascos
Todos vibram e cantam pelo rei

Observo com deleite o brotar
Do calor que para vingar veio
Exala o cheiro de carne a queimar
Enquanto a gargalhar me banqueteio

Mateus Medina
27/08/2012








quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Imiscível

Hoje sou de mim o pó, o resto
Sombra projetada sem pretensão
Preterida pela luz em manifesto,
Atestado pelo olhar da solidão

Sou só um cão, pulguento e aleijado
Ladrando à noite pelos becos
Fugindo das sombras ao meu lado,
Dos sons da vida só ouço ecos

Hoje sou apenas um sem-rosto
Réstia de sorrisos molestados,
Cinismo encharcado de desgosto
Da vida restam-me os espasmos

Sou só aquele que sangra invisível
O grito que é melhor emudecer
Represento a podridão imiscível
Aquilo que se quer esquecer

Mateus Medina
03/10/2012

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Rosa murcha



Não é que a rosa, coitada, seja feia,
Ela é bela - e até cheira bem
É que a tua beleza estonteia
Dela não há quem tenha um vintém

Não é que à lua falte o poder
Das marés ela é deusa e senhora
É que tu fazes o meu sangue ferver
Ondas pra lá e pra cá a qualquer hora

Não é que vida não seja boa
Dela aproveito cada respirar,
Entre sorrisos num dia divertido

É que sem ti, tudo nela destoa,
Não há marés, vejo a rosa a murchar
E me pergunto disso tudo o sentido

Mateus Medina
26/09/2012

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Por que lutar?



Que a neve me cubra de branco
E o frio se aposse do meu corpo
Derrotado, imóvel, cansado...
Até que afinal esteja morto

Que se esqueçam de mim; sigam!
Já não posso, nem mais um passo
Meu corpo rendido, abatido
Cedendo à loucura espaço

Que o vento me corte a pele
Feito faca de açougueiro
Por favor, não me carreguem!
Sigam em frente os guerreiros...

Que o silêncio se faça pesado
Quero o beijo da solidão
Deixem-me sozinho e calado
Não lembro de qualquer canção

Que seja bem curto o caminho
Para os braços do absoluto ócio
Pesam-me os olhos, as pernas
Já enxergo o impiedoso núncio

Que venha e espalhe a notícia:
"Um covarde a morrer tartamuda"
Parto sem compreender
Por que lutar por esta vida absurda?

Mateus Medina
14/09/2012


quarta-feira, 6 de junho de 2012

Tempo em jatos



Entre o que eu via e fazia
Um abismo se entrepunha
Dobrava-se o tempo, sobre si mesmo
Acelerando a percepção
Aplacando a angústia da demora
Fazia tempo, já era hora
E de repente estava feito
Um estalo, uma explosão,
Desdobrou-se e esticou-se, o perverso!
Tempo de observar o estrago
Com muito tempo, esticado
Em lentidão tudo voltava
E todo o tempo percorrido
Não era nada; absolutamente
Revi, revivi, resurgi
Num espaço amargamente opaco
Cada momento, cada respirar,
Os gemidos em suave retrocesso
Cabia tudo; o universo
Dentro dos escassos segundos
Entre o empunhar da faca
E o rasgar da carne
Tudo de parte, suspenso...
Um grosso e pegajoso jato
Atravessa e rasga o tempo,
Retira-lhe o que resta
Outro jato, menos tempo,
Esvaído até o silêncio absoluto

Mateus Medina
05/06/2012


terça-feira, 13 de março de 2012

Eclosão



Arremessado em ruas de iniquidade
Arrancado do seio do qu'era belo
Vil destempero de impunidade
Agarrou-se em minh'alma, fez castelo

Se arranco prazeres do invariável destino
É porque vislumbro sorrisos incoerentes
A exibirem-se com pureza de menino
Encovando improbidades eloquentes

Em vielas banhadas pela ausência de luz
Fui criado em efervescente desamor
Distinguido com medalha de pífia cruz

Todo mal que me seduz eclodiu
Quando marcado pela dor, renasci
Neste mundo onde o sol jamais saiu

Mateus Medina
13/03/2012

segunda-feira, 5 de março de 2012

O esperado fim



Sinto o meu tempo a escorrer
Por entre os dedos, pelas feridas
Por mais qu'eu tente me esconder
Não enxergo qualquer saída

O frio que me acomete vem da alma
As mãos trêmulas sofrem a antecedência
O que vem por aí não me acalma,
Não trás em si qualquer decência

Uma solitária e dolorosa morte
Tudo o que busquei durante a vida
Ao Deus que nunca cri, rogo sorte
Em frágil oração, com tons de despedida

Vou-me embora deste mundo a sangrar
Exatamente da maneira que cheguei
Vou-me embora sem aprender a amar
Se algum dia fui amado, não sei...

Mateus Medina
05/03/2012

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Último pedido



Nunca estive preparado
Para o que aconteceu
De fora, me vi ali parado
Bebendo um altruísmo qu'era seu

Grosso, era o sangue pelo chão
Encharcando as vestes do pobre
Sua alma encarcerada em solidão
Libertada pelo meu gesto nobre

Não quis, resisti enquanto pude
Tentei esquivar-me do absurdo
Disseste: “meu amigo, és tão rude
Negas a morte a um moribundo?”

Cumpri a obrigação com lealdade
Como pediste, um buraco no peito
Não podia perder tua amizade
Deixar-te morrer daquele jeito

Mateus Medina
10/11/2011

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Insuficiente



A luz que beija o solo é suave
Pálida, amarela e fugaz
A escuridão desaba do céu; grave
Densa, negra e voraz

A alegria que pinta os rostos
Das inocentes crianças
Não chega pra tanto desgosto
De adultos sem esperanças

O sucesso de uns poucos
Não prova que tudo é possível
A tragédia de muitos outros
Mostra o mais acessível

O beijo nos lábios, guardado
Não chega para salvar
O nobre sentimento acuado,
Condenado a definhar

Mateus Medina
15/11/2011

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Perseguição




Perseguiste-me por muitas vidas
Nos meus calcanhares andaste
Espalhaste em meu corpo feridas
Da minha dor… zombaste

Por ti mutilado e queimado
Meu sangue em taça celeste
Bebeste com todo cuidado
De não o entornares nas vestes

Meu rosto ardido e descarnado
Agora é tudo o que enxergas
O espelho vês por outro lado
E para a morte escorregas

Mateus Medina
02/11/2011

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Voz e Piano



Canta esta voz aqui dentro
Suave, só ela e o piano
Sorri enquanto lamento
Não possuir qualquer plano

Andei por aí, pelo mundo
Tentando dela escapar
Vaguei em esgotos imundos
Dormi sem querer acordar

Mas ela aqui continua
Cantando a mesma canção
Dedilha o piano; nua
Negando-me a solidão

Busquei a morte nas ruas,
Nos becos, nas drogas, no bar
Disse-me a morte: “Ela é tua”
Negando-se a me libertar

Tantas vezes perguntei
O que desejava de mim
Sem responder só tocava
A mesma canção sem fim

Jamais via o rosto, só olhos
De puro desgosto estampado
O corpo esguio em retalhos
O piano ensanguentado

Um dia assim de repente
Cessou a voz seu cantar
Esperei pela morte; contente
Veio a voz em seu lugar

Já não cantava ou tocava
Recitava com profusão
O destino que me aguardava
Incerto até então

Tomou pelo braço a morte
E saíram a caminhar
Sumiram nas sombras do norte
Deixaram-me ali a tocar

Mateus Medina
04/11/2011

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Meus olhos




Sopraram-me o fogo na testa
Marcaram-me as pernas com aço
Beberam, tal qual fosse festa
Julgaram-me morto; erro crasso

Despertaram o que hoje sou
Não qu’eu já não o fosse
Dormia em mim desamor
Antes amargo, hoje é doce

Com prazer me revelo
Para quem me quiser conhecer
Quem busca da vida o que é belo
Precisa de mim se esconder

De tudo o que é vivo eu troço
Destroço com prazer banal     
Chupando o tutano dos ossos
Olhar-me nos olhos; é fatal

Mateus Medina
25/10/2011

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Toda noite ele vinha



Toda noite ele vinha
Sorrateiro e sorridente
Matar a alegria minha
Com a faca entre os dentes

Eu ficava ali parada
Sem qualquer opinião
Não podia dizer nada
Nem que sim, nem que não

Era assim que ele gostava
Toda noite, a noite inteira
Dizendo que me amava
Daquela estranha maneira

Um dia… me cansei
Tomei coragem de mudar
Roubei-lhe a faca e o matei
Na plenitude do seu gozar

Para dentro de mim escorria,
Eu escorria seu sangue pra fora
Sorri da sua agonia
Depois fui jantar… era hora

Mateus Medina
10/10/2011

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Quimeras




Das tuas quimeras, nada resulta
Vês a vida com cores infantis
A alegria é tua imperatriz
Te enganas, a vida é força bruta

Não há nuvens que não sangrem
Neste céu há tempos caído
Lavado com pedaços de vidro
Enquanto o chicote te brandem

Foges para dentro da mente
Encontras um canto demente
Que a meio da noite te assombra
Assomo de esperança hedionda

Maldita meretriz; a esperança
Disfarçada de doce criança,
Encarna a mensageira de luz

Dissemina os sentimentos mais vis
Torna a tua busca infeliz
E no fim, só a morte te seduz.

Mateus Medina
16/09/2011