segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Falsas convicções




Não me julgue pela máscara,
Por um vício ou por um verso
Se no fim já não há nada
Me declaro e me despeço

Não me julgue pela dor,
Por prazeres ou defeitos
Não nasci para o amor,
Não trago coração no peito

Não julgue o meu cinismo
Como fuga ou amargor
Ele é simples amorfismo
Que a própria vida moldou

Não julgue o meu sorriso,
Como mágoa, encenação
Tenho tudo o que preciso
P'ra viver com a solidão

Mateus Medina
15/07/2013

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

O meu lar


(Impression, soleil levant, Claude Monet, 1872)


Quando busco o teu rosto no mar
É que o vento que sopra, é brisa
 Vem devagar, mas sem parar
Toca o meu rosto de leve
Quedam meus olhos fechados
- É como te vejo melhor -
As ondas que quebram na beira
São inocentes, não suspeitam
Quão fundo a saudade mergulha

Sei do silêncio das pedras
Sinto-o sob os meus pés
O teu rosto flutua no azul
Qu'eu pinto p'ra te conquistar
O meu lar é o mar, a areia
Amor não é o que se semeia
Muito menos o que se colhe
Amor é aquilo que nasce
Ninguém sabe como - ou de onde

Mateus Medina
14/08/2013

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Permita-se



Mostra-me a verdade escondida,
Sei que a carregas em algum lugar
Entre o desinteresse pela vida
E o amor que nasceste para dar

Permita-me baixar tua cortina
Despir-te um dia desses qualquer
Provar em teus lábios a menina;
Em teu corpo, a força de mulher

E deixa-te dessa brincadeira;
Ser triste, esconder-se do mundo
Pois muito tens que lhe mostrar

Não deixe que passe a vida inteira
Encolhida, temendo o absurdo
Que a vida tem muito mais p'ra dar

Mateus Medina 
18/10/2012


sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Gatilhos da Saudade





          Tinham acabado de voltar do enterro de um dos seus tios. Um daqueles que ela não via há mais de 10 anos.

          Enroscada no colo do pai, tinha novamente cinco anos. Ali, não tinha nada a temer ou qualquer preocupação. Ali, o tempo parava e ela podia ser criança novamente.

         - Pai, é tão confuso... quando recebi a notícia, foi como se não sentisse nada. Como se o tio Arnaldo fosse um estanho...

         - Você já não o via há quanto tempo? Doze anos? É normal o distanciamento, querida.

         - Não sentir vontade de chorar? Em nenhum momento? É normal? Ele era o meu tio preferido.

         - Há alguma lei que te obrigue a chorar? Nem sempre um rio de lágrimas espelha a face do amor.

         Enquanto o pai ainda terminava a frase, ela chorou.

         Finalmente. Compulsivamente.

         Ele esperou até os soluços encontrarem o caminho do silêncio, e então perguntou:

         - Por que agora?

         - Você afastou o cabelo da frente dos meus olhos, examente do jeito que ele fazia.


Mateus Medina
01/08/2013