terça-feira, 30 de julho de 2013

Cartas escritas para não serem lidas

("Brieflezend meisje bij het venster" (Garota lendo uma carta à janela),
 de Johannes Vermeer, 1657-1659)

Tudo o que jamais te contaria
Repousa agora em cima da mesa
Entrelaçados; destino e escolha
Resolvem o caminho a seguir
Através do caminho seguido

É como a vida
É como a morte

Fujo de uma e outra
Quando desisto e quando persisto
Não há qualquer explicação;
O meu sim e o meu não
São faces da mesma moeda

É como o coice
É como a queda

Está aí, em cima da mesa
Leia, se quiser saber
Queime, se tiver juízo
Mas, não me pergunte nada
Esse rio já foi desviado
E não faço ideia para onde 

Mateus Medina
27/07/2013

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Si bemol é sempre triste



Num dia desses que ficou pra trás
Minha alegria jaz, vestida de amarelo
Acorentada num qualquer sujo cais
É o espelho do meu próprio flagelo

E por mais que a tente encontrar
O mundo é outro, é outro tempo
Há muito a deixei de escutar
Hoje toco canções de lamento

E é nas cordas do meu violão
Que persisto na busca impossível
De encontra-la num Si bemol

Dedilho, corda sim, corda não
Tentando recriar o inaudível
À beira-mar, ao nascer do sol

22/07/2013

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Desmentido

Palavra às vezes me desmente
Pula boca afora sorrindo,
Rodopia contente pelo chão
Chama para si toda atenção,
À volta, é ignorado o evidente;
A alma sente diferente

Sentimento faz de mim refém,
Trepa pelo estômago acima,
Costura os vácuos que convém
Me cala, se vai e deixa a sina;
Na boca o gosto de ninguém,
A mente dispersa desatina

Palavra e sentimento em batalha
Destroem minha percepção
Vislumbres de verdade se entalham
 Na pedra basilar da razão
No fim resta apenas o retalho
Da verdade esculpida em ilusão

Mateus Medina
12/07/2013

segunda-feira, 8 de julho de 2013

O que vês que eu não vejo?

Tu achas sempre que podemos
Mudar o mundo com canções
Limpando o velho pó da casa,
Mudando os móveis de lugar
Tirarando os peixes do aquário,
Liberdade! Te ouço a gritar
Como se houvesse um caminho
Onde podemos sorrir a dançar

Tu insistes em dizer que o amor
Há de sobreviver ao holocausto
Que as flores não morreram
- Nossos olhos é que não sabem ver -
Que o vendaval não faz qualquer mal
- As casas são mal contruídas -
Que o sol está lá fora a brilhar,
Mas só vemos a escuridão da vida

Tu acreditas no poder do perdão
Na doçura das palavras bem ditas
Bendita seja a tua inocência
E se tiveres, amor, paciência
Não desistas de tentar me ensinar
Que o mundo vai além do que parece
Que a alma da gente padece
Quando desiste e deixa de acreditar

Mateus Medina
08/07/2013

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Um e outro

Há em mim o que duvida das flores,
Não sente sequer o seu perfume
Duvida da vida, dos amores
Encolhe-se na escuridão - sem lume

Habita em mim o cínico descrente
Que duvida da próxima alvorada
Do leme da própria vida ausente
Tem como única certeza: O nada

Há em mim o que perdeu a esperança,
Não enxerga estradas pr'o futuro
Desdenha dos sorrisos das crianças
Nada enxerga do outro lado do muro

Junto desse há o tolo incorrigível
Que nega o que foi dito; com fulgor
E se tudo se torna incompreensível
Canta o sentido da vida: O amor

Mateus Medina
01/07/2013