quinta-feira, 14 de abril de 2011

Crime e Castigo, de Fiódor Dostoiévski




"Crime e Castigo" é um dos mais impressionantes livros que eu tive o prazer de ler.

Dostoiévski leva-nos numa viagem fantástica, pela mente de Raskolnikov, um rapaz perturbado, completamente perturbado.

De acordo com aquilo que acredita, ele divide a humanidade entre aqueles que são “excepcionais” e os que são “escória”. Ele acredita que os grandes homens, aqueles que “nasceram para grandes feitos” – grupo em que ele se inclui -, não devem se submeter as leis dos “pobre mortais”, estão simplesmente acima do bem e do mau.

Acreditando nisso, mas, vivendo na miséria, ele precisava de algum dinheiro, que viabilizasse os seus “grandes feitos”, é então que resolve cometer um roubo, seguido de assassinato. Afinal, é só uma velhinha agiota, que é “escória” da humanidade.

A coisa não corre tão bem como ele pensava, principalmente no que diz respeito as próprias crenças.

Consumado o fato – e mais o assassinado da sobrinha da velhinha, que não foi planejado, pois nada tinha a ver com a história -, Raskolnikov se vê metido num mundo que ele nunca esperava, que não fazia parte das suas crenças: O mundo do remorso.

Como lidará esse jovem, com o fato de não ser, ele próprio, um reflexo exato daquilo que se imaginava? Ele mergulha num mundo que é só dele, tornando-se (ainda mais) introspectivo, “pesado”, confuso… é um turbilhão de emoções, todas juntas, ao mesmo tempo, sem descanso nem misericórdia.

Ele não é, afinal, aquela “pedra de gelo” que se imaginava. Continuaria ele a ser o “super-homem” que se imagina, ou esse fato, que inicialmente parecia “trivial”, será capaz de mudar a sua vida, a sua personalidade e as suas crenças?

O livro desenrola-se a partir desse tema central, no entretanto, há algumas histórias paralelas e não menos fantásticas, como a de um jogador inveterado, que é incapaz de cuidar da própria família, e que Raskolnikov acaba por ajudar. A história da sua própria irmã, que não é menos controversa que a sua própria, entre outras, como a de Sónia, que se prostitui para o sustento da família, de uma família despedaçada.

Dostoiévski tem algo que eu nunca encontrei em nenhum outro escritor, que é a forma como ele conta a história, de maneira completamente única e inimitável.

Normalmente, os autores tendem a descrever os pensamentos das personagens, de maneira lógica, para que entendamos bem o que se passa. Explicam as situações de maneira clara, para que não nos percamos na leitura, para que a história continue atraente; Dostoiévski não faz isso.

Ao contrário do mencionado, o grande trunfo desse clássico, para mim, é justamente a maneira como Dostoiévki leva-nos através da mente de Raskolnikov, para dentro da nossa própria mente.

Quando pensamos em algo, não é sempre que temos os pensamentos lógicos e organizados. Muitas vezes, somos assaltados por pensamentos que “não são nossos”, que não fazem sentido, que são absurdo. Misturamos os pensamentos, que vão pegando carona em outros, que entretanto se meteram pelo caminho. Fazemos uma grande confusão, falamos connosco, como se fossemos dois, ou três, ou mil… agora, imagine ler um livro inteiro assim, literalmente como se fosse você a pensar aquilo tudo.

Dostoiévski narra esses pensamentos da maneira mais perfeita que eu alguma vez já li. Isso talvez torne a leitura “chata” para alguns, porque sai dos moldes que estamos acostumados, com tudo muito organizado, estruturado e certinho.

“Crime e Castigo”, além do seu conteúdo filosófico, que passa por críticas à moral cristã, com uma pitada de niilismo, humanismo, e outras confusões mil, na cabeça de Raskolnikov, ainda tem um final surpreendente para este homem, que a princípio era tão certo de ser inabalável.

“Crime e Castigo” nos faz, literalmente sufocar, e sentir o fedor, o “calor”, o abafamento e toda a pressão psicológica daquela São Petersburgo Czarista, através do perturbado Raskolnikov.

Não é à toa que é um grande clássico da literatura, um livro “obrigatório”, que eu recomendo vivamente a quem ainda não o leu.

Mateus Medina
14/04/2011

6 comentários:

  1. Tava na minha lista de "ler algum dia", mas agora vai ganhar certa prioridade :)

    Nesses "moldes fora dos moldes" da literatura clássica eu indico Ana Karênina, do Tólstoi. Contém filosofia, romance, política e toques de realidade com a tal carga individual q citou.

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  2. Eu acho que você vai gostar muito, Alexandre.

    Quanto a Tólstoi, eu tentei ler um livro dele uma vez, mas "não consegui", simplesmente não avancei... se a memória não me falhar, foi "guerra e paz".

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  3. Vou procurar num sebo assim q possível.

    Os livros do Tólstoi requerem muita atenção mesmo. A leitura é lenta e difícil, mas tem conteúdo de sobra em cada frase grafada.

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  4. Tem uma coisa que eu tava pensando, eu tentei ler isso com 15 anos... talvez valesse a pena dar outra chance... com 15 eu também não terminei Crime e Castigo, que por acaso, comecei a ler mais ou menos na mesma época de Guerra e paz ;)

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  5. Finalmente li Crime e Castigo :D Realmente é um ótimo livro, tio Mytha, bem melhor do que eu esperava.

    As críticas e as discussões propostas se misturam de uma forma bem natural, o que facilitou bastante a leitura... agora vou buscar outros livros do Dostoiévski.

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    1. Salve, salve, Alexander the Great hehehe!

      Eu bem imaginei que você fosse gostar. Eu também tô com outro dele na fila, mas com essa coisa de sagas, tá complicado. Lendo três ao mesmo tempo, uma delas com 10 ou 11 livros já lançados (dividiram Game of Thrones aqui ¬¬) e eu ainda vou no terceiro... rsrrsrss

      Aquele abraço, brother!

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