sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Voz e Piano



Canta esta voz aqui dentro
Suave, só ela e o piano
Sorri enquanto lamento
Não possuir qualquer plano

Andei por aí, pelo mundo
Tentando dela escapar
Vaguei em esgotos imundos
Dormi sem querer acordar

Mas ela aqui continua
Cantando a mesma canção
Dedilha o piano; nua
Negando-me a solidão

Busquei a morte nas ruas,
Nos becos, nas drogas, no bar
Disse-me a morte: “Ela é tua”
Negando-se a me libertar

Tantas vezes perguntei
O que desejava de mim
Sem responder só tocava
A mesma canção sem fim

Jamais via o rosto, só olhos
De puro desgosto estampado
O corpo esguio em retalhos
O piano ensanguentado

Um dia assim de repente
Cessou a voz seu cantar
Esperei pela morte; contente
Veio a voz em seu lugar

Já não cantava ou tocava
Recitava com profusão
O destino que me aguardava
Incerto até então

Tomou pelo braço a morte
E saíram a caminhar
Sumiram nas sombras do norte
Deixaram-me ali a tocar

Mateus Medina
04/11/2011

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