segunda-feira, 19 de setembro de 2011

"A Solidão dos Números Primos" - Quando o cinema estraga um livro



Não é novidade que o Cinema estraga livros desde sempre. O penúltimo "estrago" que vi foi "Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 2".

Até certo ponto, o filme parecia manter a fidelidade ao livro, e de repente descambou, ficou "morno" e chato.

Como eu sou fã de carteirinha, me custou a admitir, mas, admito aqui. Pronto.

No entanto, não é disso que quero falar agora, é de "A Solidão dos Números Primos", o primeiro e F-A-N-T-Á-S-T-I-C-O livro do escritor Italiano, Paolo Giordano.

Esse livro foi um dos que "escolhi pela capa". Como já disse, não julgo um livro pela capa, mas uma boa capa consegue me chamar atenção o suficiente para comprar um livro. Foi esse o caso.

(A capa de edição que li)

Eu e a preta somos sócios do "Círculo de Leitores", e todos os meses escolhemos pelo menos um livro da revista que recebemos. Deve ter pouco mais de um ano que escolhi esse pela capa, e não me arrependi. Pelo contrário.

O livro conta a história de Mattia e Alice, começando pela infância e os acompanha até a idade adulta.

Justamente na infância, eles passam por traumas que vão marcar as suas vidas para sempre.

Individualmente, Mattia e Alice são seres humanos com traumas enormes, que vivem limitações terríveis em suas vidas por conta desses traumas. Alice torna-se anoréxica e Mattia, um verdadeiro gênio, esconde-se nos estudos e dentro da sua doentia cabeça, enquanto mutila-se fisicamente e psicologicamente.


O livro é bárbaro, e não tenho qualquer adjetivo que não seja exagerado para lhe dar. É um livro que trata de emoções humanas, que são reais e sofríveis, e que muitas vezes existem bem ao nosso lado, mas que são difíceis de compreender e até identificar. É mais fácil "rotular" de "freak". Trata de desencontros e silêncios. Trata de amor, mas de uma maneira bem diferente da habitual.


Cada página é de uma sensibilidade ímpar, e você não consegue parar enquanto não devora o livro todo, se emocionando junto com aquelas criaturas que são "números primos", que passam a vida juntos sem poderem se tocar...

A maneira como o autor nos transporta para a mente das personagens é tão simples e natural, que a história parece realmente se desenrolar ali à nossa frente. A estranha relação de Mattia e Alice é dissecada com uma carga de realidade poucas vezes vista... Mattia principalmente, é uma personagem de carga emocional e dramática fortíssima (não que Alice não seja, mas eu a sinto "superar" as coisas melhor que ele)... é impossível ficar indiferente ao sofrimento que ele se impõe ao longo do livro.

Com certeza uma das 10 melhores obras dos anos 00's. Imperdível.

Não vou "spolear" muito, porque se alguém se interessar em ler, eu garanto que não vai se arrepender.

A questão é: NÃO VEJAM O FILME antes de ler o livro - e se não quiserem ver depois, não faz falta...

Os atores estão ótimos, principalmente o que faz o Mattia na fase intermédia (são três fases passadas no filme, a infância, a adolescência e a fase adulta). No entanto, nem só de atuações vive um filme.
A fotografia do filme chega a ser ótima em algumas passagens, e exagerada em outras.

A música do filme começa bem, e de repente, sai do contexto e depois se repete, e repete... Mas, é a edição que consegue estragar verdadeiramente o filme.


"Picando" as ações do livro, eles conseguiram estragar a obra, que é contada de forma linear, embora "volte" algumas vezes em lembranças das personagens, mas de maneira a nunca perdermos o fio da meada, o que não acontece no filme, infelizmente... Se alguém não leu o livro e vê o filme, provavelmente não sentirá vontade de ler - isso se terminar de ver o filme...

Além disso - o que para mim é mais grave -, deixaram de fora alguns momentos extremamente marcantes do livro, e fizeram um final... ridículo. O final do filme insinua justamente o oposto do livro. Ou assim pareceu a mim e a todos que viram o filme comigo...


Quando fiquei sabendo do filme, imaginei que pudesse ser assim. Eu sabia que seria um grande desafio para o cinema, traduzir tanta sensibilidade e confusão... mas poderia ter sido muito melhor.


"A Solidão dos Números Primos" não é uma obra que "peça" uma adaptação cinematográfica, pelo contrário, estaria melhor sem ela.

10 comentários:

  1. Valeu pela dica do livro. Nãoconheço o autor, mas o assunto me interessa.
    Só fiquei preocupada com a informação sobre a 2ª parte do HP. Ainda não vi, e agora só verei em dvd, mas todas as informações são preocupantes. Inclusive pelo tempo curto que levou pra sair de cartaz em muitos cinemas. Aff!

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  2. Talvez uma coisa bastante surpreendente é que o Autor é muito jovem, tinha 25 anos na altura da publicação do livro.

    Como está explícito, é fantástico e eu recomendo.

    Quanto a HP, sinceramente, custou admitir para mim mesmo mas... faltou "qualquer coisa" no último filme... foi fraco para o livro que é.

    bjos

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  3. fiquei bastante curiosa em ler o livro!!
    outras obras que estragaram ao transformar em filme:A pequena sereia( andersen)- modificaram completamente o final e o conto 'A Cartomante' ( machado de assis)... beijos

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  4. Eu acho que você vai gostar, Valéria ;)

    Em relação aos filmes estragados pelo cinema, "A Pequena Sereia" já vi faz muito tempo, não me lembro e nem li o livro para comparar.

    Também nunca vi o filme baseado no conto de Machado, "A Cartomante".

    Você acabou de me lembrar foi que eu vi há uns tempos, que iam fazer um filme baseado naquele poema "O Vestido" de Drummond, que é um poema que eu AMO. Acho simplesmente fora de série... só que nem sei se chegaram a fazer o filme ou não. Tenho que conferir...

    bjos

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  5. A coisa mais natural do mundo é o cinema ESTRAGAR a literatura. E essa modinha de vender os livros com a "capa" do filme? Eca!!!! O estrago que fizeram com "O retrato de Dorian Gray", por exemplo, foi absurdo.

    Mas o livro já está na minha wishlist. Temática que sempre me interessa. valeu pela dica! Bjos!

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  6. Eu não vi ainda "O retrato de Dorian Gray". Estragaram é? No news...

    É produção americana ou inglesa?

    Quanto ao livro, eu acho que vc também é mais uma que vai gostar ;)

    bjos

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  7. Vi esse aqui:

    O retrato de Dorian Gray (Dorian Gray)
    Reino Unido, 2009
    Direção: Oliver Parker
    Elenco: Colin Firth e Ben Barnes

    Decepcionou MESMO. E eu amei o livro. Já o filme... Tristeza! rs

    Pode deixar que já coloquei o livro na minha wishlist. ;-) Uma hora compro, leio e venho te contar o que achei dele.

    Bjos!

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  8. Ahhh, eu tenho que ver.

    O livro é BÁRBARO. Eu também adorei.

    bjos

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  9. Mateus, eu também li este livro e gostei muito! Mas o engraçado é que não cheguei a escreverr sobre ele lá no blog...eu leio muito então escrevo apenas sobre alguns, né?

    E olha, sua resenha está maravilhosa, muito bem redigida mesmo. E confesso que não vi o filme e agora nem pretendo mais ver, rsrrsrs.

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    1. Obrigado, Beth.

      E olha, não tá perdendo mesmo nada em não ver o filme... bah, porcaria =/

      bjos

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