quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Vendo-a passar



Passava o dia na janela, vendo-a passar. Não que ela fosse extremamente bela, mas também não era feia. Não parecia feliz nem miserável. Tinha uma expressão neutra, de quem boia numa piscina. Sem ondas.

Andava como quem está parada. Nunca a via sorrir nem chorar. Quando cruzava sua janela, olhava-o sempre nos olhos sem nada dizer. Nem ela, nem ele.

Um dia, sem quê nem pra quê, ela especou-se em frente à janela. Pela primeira vez ele ouviu a sua voz. Pausada, cansada e descontente. Falhavam sílibas pelo meio, num estático soluço seco. Sem lágrimas. O tom absurdamente monocórdio, fazia crer que já o havia explicado o óbvio por mil vezes, ainda assim, sem ser compreendida:

- Quando é que me tomas em tuas mãos? Quando é que me assumes como tua? Quando é que me dás direção?

Pego de surpresa, atônito, ele fez a única pergunta possível:

- Quem é você?

- A sua vida... idiota!

Mateus Medina
13/02/2013

8 comentários:

  1. rsrsrs... não sei porque, mas apesar do tom trágico, eu ri quando cheguei no final. Bom demais! Somos mesmo cegos diante da vida que passa, desse tanto que deixamos passar por nós, grande porcentagem do tempo que estamos aqui nesse mundão.

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  2. Putz... Pesado isso... Mas totalmente pertinente em algum momento da caminhada! ;-)

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  3. Mas ninguém precisa ser assim tão idiota! Se lessem teus poemas com atenção haveriam de ter uma direção. Meu abraço.

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  4. Que chamado! Muito bom seu texto. Não está no campo da ficção. Bjs.

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  5. Genial... já te disse isso mil vezes...

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