sexta-feira, 1 de junho de 2012

A "piadinha do Thor" e o preconceito onde não há


Desde o nascimento da arte (quando é que foi isso mesmo?) que ela sofre com a censura.

Em tempos, foi uma censura oficial. Mas, mesmo após a queda das ditaduras pelo mundo, a arte continua sofrendo censura. Engana-se aquele que se julga completamente livre para expor a sua arte.

Discutir os limites da arte não é fácil. As regras de boa convivência social impõem, por si só, certos limites de "bom gosto". Aqueles limites que nos impedem de reproduzir artisticamente o que afirmamos com veemência, na proteção ilusória do nosso lar, refúgio sagrado da nossa hipocrisia.

Lendo a notícia sobre a polêmica da "piada do Thor", no filme "Os Vingadores", me veio à mente uma avalanche de questões. Mas, só depois de uma interna exclamação de "foda-se, esta merda já passa dos limites". Não, não me refiro a piada do Thor. Ela foi engraçada, eu ri. Todo mundo no cinema riu, e em nenhum momento eu racionalizei sobre "os adotados são malvados".



Uma americana qualquer, resolveu criar uma petição online, para que a Marvel "apresente desculpas formais por ter insultado os filhos adotivos e seus pais."

Parem o mundo que eu quero descer! (Foi mal, Rauzito) Onde já se viu exigir desculpas formais por uma piada? Que mundo é esse, que interfere na arte de tal maneira, que uma empresa com o histórico da Marvel, precisa se desculpar por uma piada boba, onde o Thor busca simplesmente se desvincular do Loki, quando descobre que ele já teria matado 80 pessoas?

Se tem uma coisa que a Marvel faz com seus heróis é combater o preconceito. Um exemplo simples é o nascimento dos "X-Men", que surgem como uma clara metáfora a marginalização do diferente, em forma de "mutante".

É cada vez mais frequente a interferência do público em obras de arte. O público palpita, "exige", clama e resolve... Será a morte da arte se não pararmos com isso enquanto é tempo. Se o público direciona uma obra de arte, ela perde completamente a validade. Se o autor deixa de ter o poder sobre os rumos da mesma, isso não é arte, é marketing barato.

Me lembro perfeitamente, no tempo em que eu ainda via novelas, do público exigir o "sumiço" das personagens de Christiane Torloni e Sílvia Pfeifer em "Torre de Babel", uma novela das 8 (salvo traição da memória), em que elas interpretavam um casal de lésbicas. Sei lá porque diabos, o "público brasileiro" se sentiu ofendido (ao contrário do que se passa com as "banheiras do Gugu" e equivalentes). Não pode dar protagonismo a gay na TV.  Que coisa tão imoral! E assim, as personagens foram mortas. Vergonhoso, hipócrita e preconceituoso... mas foi o público, o público pode...vivemos na era de agradar o consumidor, em detrimento arte, assim, a novela retomou os bons ibopes e "a família brasileira" ficou toda feliz. Morte aos gays!

Voltando ao pobre coitado do Thor, um trecho da reportagem diz que, segundo as ONGs pró adoção, a piada "dissemina preconceito, fazendo uma associação imediata entre ter sido adotado e ser "do mal".

Que coisa tão estúpida! Em momento nenhum a mensagem passada é essa. A única "mensagem" que a piada passa é: "Ops! Se ele já matou tanta gente e é do mau, eu não tenho nada a ver com esse sujeito". Se fosse o Thor o adotado, e a piada fosse feita ao contrário, aí seria "politicamente correto" e estaria tudo bem (ou será que há ONGs pró filhos de sangue também?).

Qualquer dia, quando os marcianos aparecerem por aí, vão exigir de Hollywood indenizações milionárias, por terem retratado os coitados tão verdes, tão feios, tão cabeçudos (eu disse cabeçudos? Não... eu quis dizer "com a cabeça bastante avantajada", me desculpem).

A ânsia em parecer tão politicamente correto está nos expondo ao ridículo. O humor vai ficando cada dia mais difícil de ser feito sem ser processado, acuado, obrigado a se desculpar. Tão triste nos tornamos, quando cada vez mais, vamos perdendo a capacidade de rir de nós mesmos.









9 comentários:

  1. Nao vi o filme entao sobre essa cena ainda nao posso opinar.
    Mas isso me fez lembrar do filme ' se beber nao case'( hangover), onde há dois caras chamados' Doug''. Um branco outro negro, quando um dos caras do grupo fala" falei do Doug negro nao do outro" , o Doug negro se ofende e diz " olha o racismo aí" !! Confesso que nao entendi o texto/ dialogo, pra mim seria a mesma coisa que dizer " o Doug de olho verde" ou " ou Doug de olho azul" pra diferenciar de qual se estava falando no momento, e nao vi onde esta o racismo aí,
    Mas acho que já li em algum lugar que a palavra" nigger

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    1. Valéria, no caso dos vingadores o contexto não passa por aí, bem longe disso. É simplesmente o que tá no quadrinho acima, mais nada.

      Acho que tem muita coisa exagerada nessas questões de preconceito, onde TUDO depende SEMPRE do contexto.

      No caso que você cita mesmo, até assim, a palavra "nigger", que é em inglês, realmente ofensiva, é utilizada muitas vezes ENTRE NEGROS pra se dirigirem uns aos outros. Creio que a utilização deve ter começado como "deboche" ao preconceito e ficou, em alguns meios, até como "afirmação da raça" (que já agora, é uma só: RAÇA HUMANA).

      Enfim, depende sempre do contexto. Se fosse algum patife, defendendo na televisão que adoção é um risco, por causa dos genes e blablabla, é ÓBVIO que seria diferente. Ali é uma piada, e é só e nem está ligada a adoção em si e sim a desvinculação de um personagem em relação ao outro, como quem diz "não tenho ligação com assasino" e não "não tenho ligação com adotado".

      bjocas

      PS: Cometi facebookcídio sim. Já estava planejado há um tempo. Vai servir de "férias". Eu já tava meio que surtando naquilo... rsrsrss

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  2. Continuando, a palavra " nigger". Usada nos usa pra se falar de negros tem uma conotação pejorativa lá , que eles, negros nao gostam de ser chamados assim.algo que seria equivalente a " crioulo " ou " tição" aqui no Brasil, e que deve haver um nome menos pejorativo( dai nao sei qual seria o nome correto em inglês) pra falar da cor da pele de um cara.
    Se for dentro DESSE contexto, dai entendo o racismo contido no comentário, caso contrario, acho exagero.bj,

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  3. Ps: vc cometeu facebookcidio?? Nao te achei mais por lá pra avisar que tinha gostado do post-:)

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  4. Rapaz, muito bom sua reflexão. Entretanto quando você fala da interferência do público nas obras de arte, acho que você foi infeliz. Velho, quem manda na arte é a recepção. Não existe mais público passivo nem leitor ingênuo. Jauss e Iser são teóricos que trabalham com a estética da recepção de maneira bem interessante. Obra é: a obra por si só e o seu impacto nos leitores, o autor que quer mandar na obra ou é ingênuo demais ou é pretensioso demais. Sócrates já apontavam a escrita como fratricida, e não foi à toa que não deixou nada no papel. Agora defendo o seguinte: quem vai ler ou consumir qualquer tipo de arte sabe o risco que corre, como já dizia a Clarisse Lispector. O público pode exigir, assim como o autor não deve ceder. Abraços.

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    1. Fred, eu respeito muito a opinião dos caras, mas discordo dessa visão.

      Eu entendo, até certa parte do caminho, que eum escrever quer ser lido. Que quem escreve e quer ser lido, quer "causar" algo em que lê (seguindo apenas a linha do Escritor, mas serve para as outras artes também). OK. Tá certo.

      Entretanto, acho um certo "desrespeito" a OBRA - veja bem, a obra ANTES do autor -, que o público "exija" qualquer coisa. Pra mim, a obra perde sim credibilidade, se guiada APENAS pelo que o público deseja.

      É CLARO que "ouvir o público" tem a sua importância, mas a PALAVRA FINAL tem que ser do autor, ou então, que arte é assim, hômi?

      Aquele abraço!

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  5. Concordo com a sua resposta de 04 de junho, Mateus.uma coisa e se adequar ao publico que ira te receber( ex: na peça de teatro do ano passado, um dos personagens ia sacar um" pau" de borracha e atirar na platéia, pra ver quem pegava..kkkk mas por fim, resolvemos eliminar isso, visto que muitos alunos que estavam em cena eram menores de idade, a platéia ia ser composta por seus pais, parentes, irmãos,achamos que por termos menores de idade em cena a coisa podia pegar mal e eliminamos o " pau" e substituímos por uma flor).

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  6. Isso , de se adequar, e repensar quem sera o publico alvo e uma coisa, agora descaracterizar a sua arte do contexto original , jamais!!!! !!!!
    Ps: perdoe me pelo termo " pau", nao tinha conseguido pensar em outro termo melhor, dai quando veio a palavra " consolo" na minha cabeça eu já tinha mandado o post!!!!!!! Kkkkkkk enfim, se o publico e especialmente os atores em cena fossem na maioria maiores de idade teríamos deixado a cena como pensamos antes, mas mudamos com medo de chocar os pais e irmãos dos colegas ali presentes...kkkkk.bj

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  7. É bem por aí, Valéria rsrsrsrs

    Vocês avaliaram uma cena e viram que poderia não causar o efeito esperado e sim um efeito negativo. Aí então, mudaram, mas, com quase certeza isso não influiu no curso da obra. Isso é uma coisa, outra coisa é alterar uma obra APENAS com o intuito de agradar.

    PS: Um "pau" é bastante aceitável, relaxa... mas claro, desde que bem distante de mim :P

    bjocas

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