sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Gatilhos da Saudade





          Tinham acabado de voltar do enterro de um dos seus tios. Um daqueles que ela não via há mais de 10 anos.

          Enroscada no colo do pai, tinha novamente cinco anos. Ali, não tinha nada a temer ou qualquer preocupação. Ali, o tempo parava e ela podia ser criança novamente.

         - Pai, é tão confuso... quando recebi a notícia, foi como se não sentisse nada. Como se o tio Arnaldo fosse um estanho...

         - Você já não o via há quanto tempo? Doze anos? É normal o distanciamento, querida.

         - Não sentir vontade de chorar? Em nenhum momento? É normal? Ele era o meu tio preferido.

         - Há alguma lei que te obrigue a chorar? Nem sempre um rio de lágrimas espelha a face do amor.

         Enquanto o pai ainda terminava a frase, ela chorou.

         Finalmente. Compulsivamente.

         Ele esperou até os soluços encontrarem o caminho do silêncio, e então perguntou:

         - Por que agora?

         - Você afastou o cabelo da frente dos meus olhos, examente do jeito que ele fazia.


Mateus Medina
01/08/2013


16 comentários:

  1. [é sempre bom receber um carinho , uma palavra de incentivo , um sorriso sincero , um abraço inesperado]

    abç

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  2. Lindo ... Gatilhos são assim mesmo...

    Beijos

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  3. E finalmente o subconsciente trouxe de volta, as memórias arrumadas mas nunca esquecidas...

    Belo texto! Abraço amigo e bom fim de semana...:)

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  4. Foi aquele toque que disparou o gatilho, sem perceber o pai a levou ao encontro do tio. Meu abraço.

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  5. Belo. Esses gestos inesperados mudam nossas reações.

    Beijos

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  6. Conheço essa sensação de precisar chorar e não conseguir...
    Um texto muito bonito!

    Bjs

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  7. Um gesto, e o coração encontra o caminho do sentimento escondido. Bjs.

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  8. a saudade é assim... e mede-se pelas lágrimas que não choramos, ou pelas lágrimas que choramos sem chorar. e pelas memórias que nos (re)acordam lugares escondidos da alma.

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  9. Muito bom mesmo. Man. E isso aqui é foda: "Nem sempre um rio de lágrimas espelha a face do amor."

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  10. Saudade são gatilhos da alma, que disparam com simples gestos... Muito lindo o conto.
    Bjus e boa semana!

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  11. As lágrimas é como a voz. Não sai quando nós queremos ou precisamos. Fiquei sem voz (7 dias) tinha 12 anos quando a minha avó materna (que me criou até ali)faleceu. Depois da morte de meu irmão, andei anos, sem conseguir chorar. Lindo conto que adorei. Beijos com carinho

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  12. muito sensível. me deu um aperto e confesso que conheço demais esse gatilho. certeiro e frio.

    :(

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