Solidão Compartilhada
Tomada a devida distância,
em última instância, tudo é desimportante
amor, ódio e todos esses livros na estante?
como todo o resto, insignificante
Em última instância,
fugimos do que intimamente nos perturba
o impreenchível buraco no peito
a unidade, indivisível, imultiplicável,
a solidão que não se curva
Como remédio, nos procuramos
fingindo nos preencher, nos completar
a consciência, entretanto, não se deixa enganar
nunca esquece que é indivizível,
e a todo momento nos recorda
da impossibilidade de a ludibriar
Ser é experiência única,
e por assim o ser, por assim acontecer
jamais nos permite esquecer
ser é indizível, indivisível, impensável
a longo prazo, é mesmo justo dizer, insustentável
Diante de tal constatação
A mim só interessa a mentira, a enganação
Se algum dia fui capaz de esquecer essa tragédia
Que cinicamente insistimos em chamar de vida
Foi quando imerso no teu abraço, me enganei
E por milesimos de segundo ignorei minhas feridas
Foi quando ao segurar na tua mão
contigo dividi a insustentável leveza do meu ser,
minha unidade, minha solidão