segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Solidão Compartilhada


Tomada a devida distância,

em última instância, tudo é desimportante

amor, ódio e todos esses livros na estante?

como todo o resto, insignificante


Em última instância,

fugimos do que intimamente nos perturba

o impreenchível buraco no peito

a unidade, indivisível, imultiplicável,

a solidão que não se curva


Como remédio, nos procuramos

fingindo nos preencher, nos completar

a consciência, entretanto, não se deixa enganar

nunca esquece que é indivizível, 

e a todo momento nos recorda

da impossibilidade de a ludibriar


Ser é experiência única,

e por assim o ser, por assim acontecer

jamais nos permite esquecer

ser é indizível, indivisível, impensável

a longo prazo, é mesmo justo dizer, insustentável


Diante de tal constatação

A mim só interessa a mentira, a enganação

Se algum dia fui capaz de esquecer essa tragédia

Que cinicamente insistimos em chamar de vida

Foi quando imerso no teu abraço, me enganei

E por milesimos de segundo ignorei minhas feridas

Foi quando ao segurar na tua mão

contigo dividi a insustentável leveza do meu ser,

minha unidade, minha solidão