Suave, só ela e o piano
Sorri enquanto lamento
Não possuir qualquer plano
Andei por aí, pelo mundo
Tentando dela escapar
Vaguei em esgotos imundos
Dormi sem querer acordar
Mas ela aqui continua
Cantando a mesma canção
Dedilha o piano; nua
Negando-me a solidão
Busquei a morte nas ruas,
Nos becos, nas drogas, no bar
Disse-me a morte: “Ela é tua”
Negando-se a me libertar
Tantas vezes perguntei
O que desejava de mim
Sem responder só tocava
A mesma canção sem fim
Jamais via o rosto, só olhos
De puro desgosto estampado
O corpo esguio em retalhos
O piano ensanguentado
Um dia assim de repente
Cessou a voz seu cantar
Esperei pela morte; contente
Veio a voz em seu lugar
Já não cantava ou tocava
Recitava com profusão
O destino que me aguardava
Incerto até então
Tomou pelo braço a morte
E saíram a caminhar
Sumiram nas sombras do norte
Deixaram-me ali a tocar
Mateus Medina
04/11/2011
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