Manuel
acordou num sobressalto. Olhou pela fresta da janela e concluiu que o sol já ia
alto. Era domingo, dia de ir à igreja com a família. Estava atrasado. E logo
hoje, que era dia da “Caminhada da Família com Cristo”.
Enquanto
corria para a casa de banho, ligou a TV. O Jornal da Manhã dava conta da
discussão do projeto de adoção por casais homossexuais. “Que aberração!”,
exclamou em voz alta, sem sequer se dar conta. O simples fato de se pôr o tema
em discussão era uma afronta a Deus, à família tradicional e à sociedade. Que
tipo de criação essas crianças teriam? Por essas e outras é que o mundo andava
como andava.
E
têm a lata de chamar a isso “família”, num telejornal da manhã. Família?
Família era a do Manuel. Um marido, uma mulher e filhos - naturais, sem essa
invenção de inseminação artificial, porque Deus não aprova essas coisas.
Irado com aquela afronta matinal, desistiu do banho.
Vestiu as calças, e se limitou a trocar a camisola. Enfiou a mão numa mochila e
tirou de lá uma especialmente feita para a “Caminhada da Família com Cristo”.
Na parte de trás havia uma foto do Manuel, a mulher e os filhos. Todos
sorridentes. Mesmo por cima da foto lia-se: “Juntos pela família”.
Olhou
para a foto e sorriu, contente por fazer a sua parte na preservação de tão
nobre instituição.
Quando
já ia na porta, uma mulher mexeu-se na cama e perguntou: “Então, meu gigante,
como é, não me pagas hoje de novo?”, Manuel sorriu e respondeu: “Já me conheces,
sabes que sou de confiança. Semana que vem pago tudo. Põe na conta”.
Espetacular! Sem mais...
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